A MANHA OU ALMANHAQUE
sábado, 24 de maio de 2014
segunda-feira, 19 de maio de 2014
NÃO ESPERE MELHORAS EM SUA VIDA COM O APOIO DO GOVERNO
PESQUISA E ESTUDO PROVAM QUE GOVERNOS NÃO AUXILIAM O PROGRESSO DAS PESSOAS - MUITO AO CONTRÁRIO - O PROBLEMA É MÁ DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, QUANTO MAIS O BOLO CRESCER, MAIOR A POBREZA
Economista francês prova que governos estimulam a desigualdade social... para pior
Nota do Editor do blog A Manha ou Almanhaque: o texto é alentado, extenso, porém esclarecedor de que desigualdades sociais só tendem a aumentar, inclusive com apoio de governos; de que as desigualdades sociais são decorrentes da concentração de renda, mais do que da carga tributária
Piketty e nós
Livro de economista francês reforça a ideia de que é
preciso conhecer melhor o topo da pirâmide social para explicar a
dinâmica da desigualdade brasileira
por MARCELO MEDEIROS
Seguramente esse é o livro de economia mais debatido dos últimos anos. Mobilizou comentários públicos e resenhas dos principais especialistas de todo o mundo, incluindo vários ganhadores do prêmio Nobel. O que não deixa de ser surpreendente, pois nenhum dos livros anteriores de Piketty recebeu tamanha atenção, nem mesmo a versão francesa de O Capital no Século XXI, publicada no ano passado.
Para o público americano, Piketty é o francês certo escrevendo o livro certo no momento certo. Com a desigualdade subindo rapidamente nos Estados Unidos, o slogan We are the 99% encontrou eco em seu trabalho: ele mostra que o 1% mais rico responde por uma fração gigantesca da desigualdade de renda e determina sua evolução no tempo. Para a Europa, ele anuncia os ventos que virão caso essa desigualdade não seja controlada. Para os países em desenvolvimento, deixa o aviso de que, se as coisas estão ruins, ainda podem piorar.
É inegável que há algum modismo por trás de todo esse sucesso. Mas achar que o estudo da economia está sendo sacudido dessa forma apenas como resultado de uma conjunção favorável de astros é subestimar o conteúdo do trabalho. Piketty é brilhante. Mas é, sobretudo, um pesquisador incansável. Numa época em que cientistas correm apressadamente em busca de publicações, ele foi um maratonista: determinou um objetivo de longo prazo, manteve a respiração e não perdeu o ritmo.
Esse livro foi construído no decorrer de vinte anos.
Todos que chegaram a profeta começaram como hereges. Enquanto muitos economistas acham natural fazer perguntas para as quais já há respostas apenas para exercitar suas habilidades técnicas, Piketty foi tratar do tema mais precioso, espinhoso e incerto da economia política, a distribuição da riqueza. E fez isso cometendo heresias para a maior parte das seitas de economistas: o autor francês abomina a matematização excessiva, a pretensão cientificista e os jargões. Diante das controvérsias entre teorias, a fórmula mais repetida em seu livro é “vejamos os fatos”. Seu trabalho traz a história e a análise de longo prazo para o núcleo da teoria econômica, tal como fizeram os grandes pensadores no passado. Nisso ele não é único, mas está entre os melhores.
O economista mais influente do século XX, John Maynard Keynes, virou as ideias de Jean-Baptiste Say de ponta-cabeça. Ao fazê-lo, mudou a forma como entendemos a dinâmica das economias nacionais. Say argumentava que, em uma fase de depressão da economia, o importante é produzir ainda mais; Keynes inverteu o argumento, defendendo que a solução nesse caso é criar políticas que aumentem o consumo, e não a produção. Com Piketty, a reviravolta partiu das ideias de Simon Kuznets ou, mais exatamente, de uma interpretação posterior dessas ideias, a “curva de Kuznets”.
Em 1954, Simon Kuznets, um dos mais importantes economistas americanos, formulou a tese de que, na história das sociedades em industrialização, a desigualdade tenderia a subir por algum tempo, até atingir um ponto máximo, a partir do qual passaria a diminuir, contínua e naturalmente. Por trás disso estariam dois mecanismos fundamentais. O primeiro deles é a transição de uma economia tradicional para uma economia moderna. Com o início da modernização, a economia tenderia a dividir-se em dois grandes setores, um tradicional, mais pobre, e um moderno, mais rico, e isso aumentaria a desigualdade. À medida que a industrialização se generalizasse, os trabalhadores migrariam, abandonando os setores tradicionais em direção aos modernos, e com isso a desigualdade voltaria a ser reduzida. O segundo é o efeito igualitário da democracia. Para Kuznets, sociedades modernas se organizariam como democracias. A igualdade formal da política democrática se traduziria em políticas de promoção de igualdade econômica, como, por exemplo, o aumento da tributação sobre o capital e sobre as heranças. Combinados a outros efeitos de menor importância, a modernização e a democracia resultariam em menor desigualdade no longo prazo.
Em um gráfico que representasse a evolução da desigualdade no tempo, esse aumento seguido de queda traçaria uma curva em forma de U de cabeça para baixo. Essa imagem ficou conhecida como a “curva de Kuznets”. Embora o próprio autor tivesse reservas sobre a generalização dessa ideia, durante a Guerra Fria seus sucessores trataram-na como uma lei inexorável. Descartaram do esquema original de Kuznets o papel dos mecanismos democráticos de controle da economia e passaram a sustentar que os mecanismos de mercado da modernização eram uma panaceia para a desigualdade. No debate ideológico sobre a dinâmica do capitalismo, a curva de Kuznets fornecia uma visão harmônica e otimista: dias melhores virão. Os brasileiros conhecem bem essa promessa dos tempos da ditadura, quando ouviram que depois que o bolo crescesse ele seria distribuído.
Muitos já haviam avaliado o U invertido e apresentado evidências de que a curva de Kuznets era mais uma profissão de fé, não havendo nada que indicasse que um dia a desigualdade cairia de forma inelutável. Piketty fez mais do que isso. Reuniu, em um trabalho exaustivo de coleta de informações sobre tributos, heranças e registros de salários, uma série histórica mostrando que, em praticamente todos os países do mundo desenvolvido, ocorreu o oposto: a desigualdade, que havia caído entre a primeira e a segunda guerras, voltou a subir a partir da década de 80. E tudo isso com concentração de renda entre os mais ricos, que ocupam o topo da pirâmide. Ou seja, ele reinverteu o U invertido, com todas as implicações disso para a crença de que caminhamos rumo a um mundo mais igualitário.
Em 18 de abril, Piketty lançou seu livro em Harvard. O auditório estava cheio,as pessoas se amontoavam na porta para assistir à apresentação. Em Berkeley, do outro lado dos Estados Unidos, uma equipe de pesquisa longe dos holofotes mantinha seu trabalho de rotina por meio de seminários. Apresentavam seus resultados Olivier Godechot, professor da Sciences Po em Paris, que estuda altos salários no setor financeiro, e Gabriel Zucman, professor da London School of Economics, um dos responsáveis pelos estudos sobre concentração do capital que fundamentam a primeira parte do livro de Piketty. Na plateia, Emmanuel Saez, professor de Berkeley e coautor dos principais estudos de Piketty.
Seminários como esse vêm ocorrendo há anos em vários lugares do mundo. Piketty não trabalhou sozinho.
Seu sucesso é resultado de uma nova tendência nas ciências sociais, a produção em grandes grupos de pesquisa substituindo a produção artesanal individual, no rastro do que acontece em outras áreas, como biologia e física. Liderando o grupo esteve sir Anthony Atkinson, um simpático e discreto senhor de 69 anos, grande especialista em desigualdade e precursor do tipo de estudo feito por Piketty. Os tempos do Marx solitário na biblioteca do Museu Britânico se foram. O Capital no Século XXI é derivado do trabalho de mais de vinte cientistas de primeira linha, municiados por um pequeno exército de assistentes. Praticamente todos os dados do livro são produto conjunto dessa equipe, e sem o trabalho dessa elite de pesquisadores seria impossível chegar às generalizações de Piketty.
A edição francesa do livro tem cerca de mil páginas. É mais fácil errar do que acertar quando se tenta condensar algo dessa magnitude, mas eu vou tentar. De forma esquemática, o resumo da teoria é o seguinte: em todo o mundo, o capital é muito concentrado nas mãos de poucas pessoas; tal riqueza gera renda, na forma de aluguéis, dividendos, retornos financeiros – e a concentração aumenta ainda mais toda vez que esse rendimento do capital ultrapassa o crescimento da economia. Quando a concentração aumenta muito, começa asobrar dinheiro. Algumas pessoas que não são capitalistas, como os executivos das empresas, têm maior facilidade para se apropriar desse dinheiro e fazem isso assim que possível, o que cria os supersalários dos trabalhadores ricos. Mas esses trabalhadores ricos não consomem tudo o que ganham, investem o que poupam e tornam-se também capitalistas. Como apenas uma parte do dinheiro que ganham vira consumo, a parte que chega aos trabalhadores mais pobres é ainda menor. Os mecanismos de acumulação são tão fortes, e os mecanismos de redistribuição tão fracos, que esse ciclo se repete indefinidamente se não houver algum tipo de intervenção.
Quando Piketty fala em “capital”, está se referindo à riqueza que gera mais riqueza, capaz de se reproduzir. A palavra, na origem, se referia às cabeças de gado, quando esse era um dos principais investimentos que as pessoas podiam fazer. Hoje o capital é investido de muitas outras maneiras, e se reproduz na forma de rendimentos de aplicações financeiras, de poupança, lucros comerciais e industriais e até mesmo aluguéis e provisões de fundo de pensão privados. Capitalista não é apenas o multimilionário que vive de rendas, mas todas as pessoas que em maior ou menor grau se beneficiam da renda do capital. Você pode eventualmente não ser um, mas certamente conhece vários.
Só uma parte pequena da população tem riqueza suficiente para reinvestir. O capital está concentrado entre os mais ricos. Este é o ponto de partida de Piketty. O passo seguinte é justamente o que levou Paul Krugman, ganhador do prêmio Nobel de 2008, a dizer que o autor francês elaborou uma teoria que se aproxima do Santo Graal da economia política: relacionar desigualdade com crescimento.
A desigualdade, diz Piketty, crescerá se a taxa de crescimento do capital – se os seus rendimentos – for maior que a taxa de crescimento das outras rendas, como as do trabalho. Ou seja, se uma parte muito concentrada da economia, o capital, crescer mais rápido que a parte bem menos concentrada, o trabalho, o resultado final será um aumento na desigualdade total.
Esse esquema teórico, porém, tem que enfrentar um problema. Nas estatísticas de distribuição de renda em todo o mundo, inclusive as que Piketty usa, a maior parte do 1% mais rico da população não é de capitalistas que vivem só de renda, mas de trabalhadores que recebem altos salários. A resposta do francês é a seguinte: esses trabalhadores são hoje a consequência, e amanhã serão a causa da concentração do capital e do aumento da desigualdade de renda. São consequência porque a concentração de capital permite a formação de grandes empresas, frequentemente monopólios. O volume de dinheiro controlado por elas é tão grande que algumas pessoas – seus dirigentes, sobretudo – têm facilidade para aumentar expressivamente seus salários, sem que isso afete seriamente as finanças das empresas.
É isso o que explicaria as altíssimas remunerações observadas entre gerentes de fundos de investimentos e executivos degrandes empresas nos Estados Unidos. O alto rendimento dessas empresas permite que uma parte diminuta de seus profissionais consiga aumentar muito seus salários e compensações. Os supersalários de hoje serão a causa de mais desigualdade amanhã – parte não consumida dessa renda será investida, tornando-se capital e realimentando o processo.
O horizonte que resulta desse esquema não é animador. Se nada for feito para controlar a desigualdade, ela continuará a aumentar, e a sociedade se tornará cada vez mais patrimonialista – comandarão a economia os proprietários, e não os produtores inovadores. Quanto mais a propriedade se tornar um fator dominante sobre a vida das pessoas, mais a riqueza que dela provém será capaz de influenciar a economia, mas também as ações de governo e a legislação. Como a concentração da riqueza afeta a dinâmica política e as oportunidades econômicas, seus resultados de longo prazo são difíceis de prever.
Piketty argumenta que os mercados não possuem nem os mecanismos nem os incentivos para frear esse processo. Ele precisa ser controlado por instituições, a começar pelo Estado. Em apoio a esse raciocínio, Piketty invoca a história de mais de vinte países: nos períodos em que os mercados são desregulados, a desigualdade aumenta; nos períodos em que são regulados, cai. Um debate que era antes travado de forma acalorada no terreno da especulação e da ideologia agora tem mais de 100 anos de estatísticas exaustivas como critério de desempate.
Há mais de duas décadas a desigualdade vem crescendo rapidamente nos Estados Unidos e na Inglaterra, e, em menor velocidade, em outros países desenvolvidos. Também cresce em países em desenvolvimento, como a Índia e a China. Por trás disso, diz Piketty, está o mecanismo que ele identificou: os rendimentos do capital são superiores ao crescimento da economia. O processo começou com a liberalização econômica, em especial com as reduções da progressividade dos tributos. Os Estados Unidos, que já tiveram a alíquota máxima de imposto de renda acima de 90% entre 1944 e 1964 – um período em que a desigualdade era baixa e o crescimento, alto –, reduziram suas alíquotas máximas para cerca de 40%. Também caíram radicalmente os impostos sobre heranças e a tributação sobre patrimônio. Nos países em que as mudanças foram menos radicais, a desigualdade não evoluiu tão rapidamente.
A principal solução de Piketty para isso vem no final do livro: tributos. Essa é, por sinal, a parte da ideia original de Kuznets que seus seguidores descartaram. Uma das maneiras de reduzir a desigualdade é montar um sistema tributário que seja capaz de, idealmente, estimular o investimento produtivo e, ao mesmo tempo, elevar a arrecadação do Estado – a fim de permitir gastos em educação, saúde e proteção social.
A ideia já havia sido apresentada em um livro anterior sobre a França, Pour une Révolution Fiscale, de Camille Landais, Piketty e Emmanuel Saez, publicado em 2011, mas agora a preocupação é global. Em poucas palavras, a recomendação é aumentar a progressividade do imposto de renda, elevando as alíquotas superiores e reduzindo as alternativas de dedução, e implementar um imposto global sobre o capital que alcançaria inclusive os paraísos fiscais.
O foco do livro são os ricos das economias da América do Norte e Europa Ocidental. A pergunta que imediatamente vem à cabeça é: “Isso se aplica também à América Latina?” A princípio parece que as coisas na América Latina são bastante diferentes – enquanto nos Estados Unidos a desigualdade subia vertiginosamente, em vários países latino-americanos ela começava a cair. No Brasil, houve euforia em relação a essa queda, inflamada pelo combustível das disputas presidenciais. Porém, agora que a redução da desigualdade brasileira dá sinais de desaceleração, parece mais claro que os ricos daqui também são muito importantes quando se quer entender o problema. Afinal, um dos fatores que frearam a queda ano passado foi exatamente o aumento da renda do 1% mais rico.
A análise de Piketty pretende ser universal. Ele fala de “leis gerais do capitalismo” com a naturalidade de um Newton tratando da gravidade. Sim, a teoria se aplica à América Latina, mas é bem possível que não completamente. O esquema básico de Piketty foi desenhado para tratar de um país ilhado em relação aos demais. Todavia, em todo o mundo, particularmente nas nações subdesenvolvidas e nas de pequeno porte, uma parte importante do capital em setores que tendem a concentrar muita renda pertence a outros países. Parte dos rendimentos de capital dos países em desenvolvimento é remetida ao exterior. É difícil medir exatamente quanto, mas um estudo de Gabriel Zucman calcula que 8% de toda a riqueza financeira global resultam de transferências de países pobres para países ricos – principalmente os Estados Unidos e aqueles na Zona do Euro – por intermédio de paraísos fiscais.
Trabalhando em conjunto, Piketty e Zucman estimaram que um terço dos rendimentos de capital nos Estados Unidos vem de investimentos feitos em outros países.
Como parte dos rendimentos de capital é remetida ao exterior, é possível que a desigualdade não se altere depois da sua concentração.
Ao remeter recursos ao exterior, as economias subdesenvolvidas exportam não só parte da sua riqueza e potencial de crescimento, mas, também, parte de sua desigualdade.
O único país latino-americano tratado nas análises de longo prazo do livro é a Argentina. Isso porque lá as estatísticas tributárias anônimas são públicas. A Colômbia recebe atenção, mas apenas para um período recente. No Brasil não é possível replicar o estudo, pois a concentração de renda nos dados tributários é tratada como um segredo. As poucas informações acessíveis datam da década de 90, quando a Receita Federal decidiu publicar relatórios com informações gerais sobre a distribuição da renda declarada, do patrimônio e dos impostos no Brasil. Os dados mostraram o que já se suspeitava: a renda era extremamente concentrada, o patrimônio ainda mais. O que não sabemos é como isso evoluiu desde então, pois a transparência durou pouco.
Ainda assim, a pesquisa sobre ricos no Brasil avança. Hoje está claro que ninguém precisa ser faraó para estar no topo da pirâmide social. De acordo com o Censo de 2010, quem tem salários de mais de 10 mil reais já pertence ao 1% mais rico da força de trabalho. Alguém pode até resistir a usar o termo “rico” para esse grupo, afinal nenhuma elite gosta de assumir publicamente que é elite, mas o fato indiscutível é que qualquer pessoa com essa renda está na ponta mais alta da distribuição de renda no país.
E o topo da pirâmide concentra renda. Muita. O Censo mostra que o 1% mais rico dos trabalhadores detém quase 17% de toda a renda do trabalho do país.
O que os mais ricos recebem é mais do que recebe toda a metade mais pobre dos trabalhadores brasileiros juntos.
Se considerássemos os rendimentos de capital, que o Censo capta muito mal, a concentração seria ainda maior. Ao que tudo indica, somos tão desiguais quanto outros países muito desiguais.
Nos Estados Unidos, que usam dados tributários que captam melhor todas as rendas no topo da distribuição, o 1% concentra mais de 19% da renda. É evidente que para entender o que faz o Brasil ser tão desigual é importante saber o que faz os ricos serem ricos.
Parte da explicação reside na atuação do Estado. Temos um Estado com razoável capacidade para fazer investimentos em políticas públicas.
Mas que usa uma parte pequena dessa capacidade para promover a igualdade. Proporcionalmente, o poder público contribui mais para as rendas dos 5% mais ricos do que para as rendas dos 50% mais pobres, mesmo depois de considerar as transferências da assistência social.
Ou seja, por não ser suficientemente igualitarista, o Estado contribui para aumentar a desigualdade, em vez de minorá-la. Serviços públicos, como os de educação e saúde, melhoram o cenário, é verdade, mas não são suficientes para revertê-lo.
O imposto de renda, que no Brasil tem alíquotas ainda menores que as dos Estados Unidos, ajuda a frear os níveis de desigualdade, mas pouco. O imposto de renda brasileiro é bastante progressivo, mas limitado. Isso porque a carga do imposto de renda no país é baixa, ao contrário do que se costuma anunciar.
“Escorchante” é um adjetivo que só se usa para tributos.
Os dados de Piketty mostram que de escorchante o imposto de renda não tem nada: países desenvolvidos optaram por ter uma carga de impostos muito maior do que a nossa quando ainda estavam no nível em que estamos hoje. Além disso, enquanto esses países sempre taxaram patrimônio e heranças, no Brasil esses tributos são de pouca importância. Nos Estados Unidos, boa parte da educação pública é financiada com o equivalente do nosso iptu,e a prática de doações a fundações é disseminada porque os impostos sobre heranças são expressivos.
Ao que tudo indica, a desigualdade entre os ricos e o restante da população é um tipo particular de desigualdade, bem mais particular do que a diferença entre pobres e não pobres. Aquilo que tradicionalmente se usa para explicar as diferenças de renda entre os 99% mais pobres não explica tão bem a desigualdade entre o 1% mais rico e os demais. Diferenças de escolaridade, por exemplo, permitem prever razoavelmente bem as desigualdades salariais para a população em geral. Mas, no caso dos ricos, esse poder explicativo é menor. Eles não são mais ricos apenas porque são mais qualificados. Ter uma educação de boa qualidade ajuda, mas não basta para levar alguém ao topo da pirâmide. Tampouco as justificativas convencionais para a riqueza são realmente capazes de explicar por que algumas pessoas estão no alto da distribuição da renda. Trabalhar duro ou ter menos filhos, por exemplo, não é o bastante para diferenciar os ricos do resto.
Uma pista forte vem dos estudos de mobilidade entre gerações no país: quem está entre os mais ricos de hoje quase sempre vem de famílias que já estavam entre as mais ricas no passado. A mobilidade social no país existe, mas é quase sempre de curta distância. Várias pessoas conseguem melhorar um pouco de vida, mas só muito raramente conseguem uma grande ascensão social. Isso também acontece entre os ricos: nem todos os ricos de hoje nasceram em berço de ouro, mas quase todos cresceram em famílias que viviam pelo menos confortavelmente. Essa reprodução resulta não apenas da herança de patrimônio, mas também de um sem-número de outras coisas (tempo livre, rede de relações sociais, hábitos culturais, mais chance de errar e recomeçar etc.) que abrem as oportunidades para que alguém seja rico – e que, de alguma maneira, têm relação com a riqueza das gerações passadas. Ao que parece, Piketty tem muita razão no que diz.
Apesar de todo o sucesso, O Capital no Século XXI também tem recebido críticas. Parte delas tem o mesmo caráter dogmático da doutrina da Guerra Fria que assumiu a previsão otimista da curva de Kuznets como uma verdade sagrada: não importa quantos dinossauros Piketty e seus colegas sejam capazes de desenterrar, está escrito que o mundo foi criado em sete dias e a terra que mana leite e mel nos aguarda. Digam o que disserem os mais de 100 anos de estatísticas do livro, dias melhores naturalmente virão e qualquer posição contrária a isso é uma heresia subversiva.
No entanto, a parte das críticas que realmente interessa é aquela que contrasta as ideias de Piketty com avanços recentes das ciências sociais. A desigualdade global, por exemplo, passa ao largo do debate do livro. O autor francês não é capaz de dar a devida atenção às pesquisas que revelam uma desigualdade entre países, tão ou mais importante que a desigualdade dentro dos países. Uma maneira de entender isso é observar o que acontece com o coeficiente de Gini, um índice comumente utilizado para medir a desigualdade de renda. O Gini do mundo é mais alto que o Gini de qualquer país isolado. Aqui, a solução proposta por Piketty para o problema da desigualdade falha. A tributação de um país retém os tributos dentro desse país e, portanto, não faz nada – ao menos diretamente – para reduzir a desigualdade entre os países. Ao tributar os ricos, o governo americano estaria tributando lucros que foram obtidos em outros países e trazidos aos Estados Unidos. Com isso, reduziria a desigualdade em seu próprio país, mas não no mundo.
O livro também subestima a importância de se comandar a economia por meio da política e das instituições. Há determinantes importantes da desigualdade que afetam diretamente quem ganha o quê na sociedade: as concessões públicas, a organização dos sindicatos, os subsídios diretos e indiretos à produção, a concentração na distribuição do crédito e da infraestrutura, o controle das remessas de lucros e os acordos comerciais internacionais, apenas para mencionar exemplos. Alguns desses fatores são citados, mas não são bem incorporados no diagnóstico, tampouco na solução proposta aos problemas que o livro identifica.
Politicamente, Piketty é bem-comportado, especialmente para o público americano, e talvez isso explique parte do seu sucesso. A proposta que faz para o problema da desigualdade está centrada na esfera da distribuição – tributos –, e não na esfera da produção – regulação direta. Piketty nem passa perto do impacto distributivo de medidas mais controversas, como a liberalização da migração internacional, o controle de setores estratégicos da economia, as políticas industriais, a redução da garantia de privilégios dada por patentes e até mesmo o uso da guerra para garantir preços estáveis de recursos energéticos. Dentro da academia americana até Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2001, é mais radical do que ele. Se é verdade que, por um lado, tributos são uma ferramenta importante de controle da desigualdade na economia, por outro lado o foco em tributos é muito pouco para quem escreve algo com as pretensões de grandeza de Piketty.
Ele é bom para identificar o problema, mas não para encaminhar soluções. O fato é que as propostas do livro não são resultado de um debate tão longo, nem contaram com o apoio de uma equipe tão ampla e qualificada quanto a que fez o diagnóstico da dinâmica da desigualdade. Seu trabalho é primoroso e seu livro é um sucesso, mas teria sido glória maior para Piketty terminar seu livro seguindo o exemplo do autor de O Capital com K: as propostas de solução de Marx foram lançadas em outras obras, separando aquilo que é daquilo que deve ser.
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Links
Fonte: http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-92/tribuna-livre-da-luta-de-classes-ii/piketty-e-nos
domingo, 18 de maio de 2014
A SECA BATE ÀS PORTAS DE SÃO PAULO
NEM REZA, NEM PROCISSÃO RESOLVEM
"Em Marsilac, poço seco faz morador ir até mina
População que mora no extremo sul da cidade tem de caminhar para ter água; cisternas secaram dois meses antes do previsto
18 de maio de 2014 | 2h 03
Diego Zanchetta - O Estado de S.Paulo
A 55 quilômetros do centro de São Paulo, no distrito de
Engenheiro Marsilac, extremo da zona sul, a seca em poços artesianos que
abastecem cerca de 30 mil pessoas começou dois meses antes do previsto
neste ano. A maior parte da região não tem água encanada da Sabesp - a
legislação estadual impede a construção de tubulações subterrâneas em
áreas de preservação ambiental e de mananciais.Com dois baldes de plástico de 20 litros cada, Valdir Ribeiro, de 54 anos, anda todos os dias 2,5 quilômetros de sua casa, no km 47 da Estrada de Marsilac, no Jardim Imbuia, até a mata onde está uma mina usada por moradores da região.
"Normalmente o poço fica sem água entre julho e setembro. Só que, neste ano, acabou antes, em abril. Agora, só indo até a mina"...LEIA MAIS/READ MORE
P.S. - Anoto eu, redator do blog A Manha ou Almanhaque, que na Bíblia DEUS O SUPREMO ARQUITETO promete àqueles que seguirem SUAS Leis, que não serão abatidos ou virão a sofrer por catástrofes climáticas tais como secas, chuvas, raios, granizo, tufões, furacões, o que leva-me a sugerir que esses que agora estão sofrendo com o clima, não seguem tais Leis, pois seguem leis propostas pela Igreja Católica, seguem leis cristãs. Vejamos se padres, missas e procissões lhes resolverão tais problemas climáticos.
Pelos trilhos da dor
Oficial britânico busca seu torturador japonês a fim de recobrar a própria humanidade
17 de maio de 2014 | 16h 00
Ariel Dorfman
Eu me pergunto se os milhões de britânicos que acreditam
que a tortura é "às vezes necessária e aceitável" - estarrecedores 36%,
segundo um relatório publicado recentemente pela Anistia Internacional -
cruzaram alguma vez com alguém que sofreu tal suplício.
ACESHOWBIZ.COM
Quando leio uma estatística como essa - outra ainda mais desconcertante indica que 44% dos cidadãos da Grã-Bretanha rechaçam a ideia de proibir a tortura em nível global - volta-me à memória um homem que conheci há 20 anos, não em minha América Latina natal, nem nas terras remotas onde a tortura é endêmica, mas numa casa na extremamente inglesa e gentil cidade de Berwick-upon-Tweed.
Naquela ocasião, todos os presentes terminamos em prantos - todos, exceto o homem que nos havia causado aquelas lágrimas, um ex-prisioneiro de guerra que meu filho Rodrigo e eu havíamos viajado milhares de quilômetros para entrevistar. Nós o fazíamos com a esperança de poder fazer justiça à sua história pessoal num drama para a BBC, Prisoners in Time (Prisioneiros no Tempo), que se baseava no mesmo material autobiográfico usado em Uma Longa Viagem (The Railway Man, do diretor Jonathan Teplitzky), filme lançado recentemente na Europa com Colin Firth e Nicole Kidman. E era de fato uma história extraordinária!
Eric Lomax, um oficial britânico durante a 2ª Guerra Mundial, havia sido torturado pelos japoneses na Tailândia, enquanto se construía, com trabalho forçado, a ignominiosa ferrovia entre Bangcoc e a Birmânia (atual Mianmar), que se tornou notória por causa de outro filme, A Ponte do Rio Kwai (The Bridge on the River Kwai, dirigido por David Lean em 1957).
A Eric, como as tantas vítimas do trauma da tortura, a experiência continuou rondando cada noite e cada dia de uma vida dominada pela recordação de sua agonia e pela urgência insaciável de se vingar. O que distinguiu Lomax da maioria dos que sofreram, em todo o mundo, atos de crueldade semelhantes foi que ele conseguiu, 40 anos depois de seu martírio, localizar o intérprete anônimo a quem responsabilizava por seu sofrimento. O verdadeiramente incrível, no entanto, é que Takashi Nagase, identificado como o homem que presenciou seus brutais interrogatórios, havia se tornado um monge budista. Nagase passou décadas depois do conflito denunciando seus compatriotas por seus crimes e fazendo penitência pelo papel que assumiu na guerra, cuidando de milhares de órfãos dos asiáticos que mortos trabalhando na ferrovia.
A imagem da guerra que mais o atormentava era, justamente, a de um valoroso tenente inglês cuja tortura ele havia facilitado e a quem acreditava morto. Entretanto, quando Eric Lomax ressurgiu em sua vida, numa época em que os antigos inimigos, já anciãos, acompanhados agora por suas respectivas segundas esposas, encontraram-se em Kanchanaburi, junto ao mesmo Rio Kwai onde haviam se enfrentado em circunstâncias bem diferentes, os dois se olharam de frente, cara a cara, e Nagase pediu perdão pela dor causada.
Tal ato de magnanimidade não foi fácil nem imediato para Eric Lomax. Algumas semanas mais tarde, porém, em Hiroshima - de todos os lugares, o mais improvável -, Lomax enfim ofereceu a Nagase a absolvição de que este necessitava para viver e morrer em paz.
A BBC havia me escolhido (junto com Rodrigo, meu corroteirista habitual) para roteirizar esse relato porque minha obra A Morte e a Donzela (peça de teatro adaptada por Roman Polanski para o cinema em 1994) já havia sondado os temas da tortura, da memória, da compaixão e da vingança da perspectiva de um Chile pós-ditatorial. No entanto, em minha obra o perdão não era central para a trama: nem o verdugo o pedia, nem a vítima estava disposta a concedê-lo. Assim, o dilema de Lomax me pareceu uma maneira de aprofundar minha exploração original com uma série de novas interrogações. Será que a reconciliação é realmente possível quando as feridas são tão vorazes e permanentes? Muda alguma coisa se o culpado se declara arrependido? Como podemos saber se essas declarações são legítimas, se o remorso não passa de um subterfúgio do ego, uma acomodação para ficar bem perante a opinião pública?
Também tivemos que nos fazer um desafio estético: dada a extrema reserva dos dois antagonistas, sua incapacidade de articular para si mesmos ou para os demais o que haviam sentido ao longo de tantos anos, como imaginar para a tela um diálogo que não traísse a solitária angústia de seres humanos de carne e osso que terão de contemplar sua existência exposta ao juízo e o olhar de milhões de espectadores? Como transmitir aquela história de um silêncio inquebrantável a espectadores longínquos, incapazes de imaginar o que a tortura deixa como herança perversa?
Nossa visita a Eric e sua mulher, Patti, em seu lar, no norte da Inglaterra, tinha como propósito tratar de extrair desse homem emocionalmente reprimido e até se diria mutilado alguma informação mínima - inteiramente ausente da autobiografia que ele já havia escrito - sobre como ele havia superado o deserto de sua tristeza, o que significava ter subsistido tanto tempo mais morto que vivo. Acompanhavam-nos o diretor do filme, Stephen Walker, e a célebre psiquiatra Helen Bamberg, que havia ajudado Eric a dar nome a seus demônios, salvando-o do suicídio e, de passagem, salvando seu casamento.
Nesse dia em Berwick-upon-Tweed, Eric, ao final de uma prolongada e árdua sessão repleta de monossílabos, nos confiou uma história dilacerante e inverossímil. Quando voltou à Inglaterra, em 1945, disse, depois de três anos aterradores como prisioneiro de guerra, ele havia descoberto, justo antes de sair do navio, que o Exército britânico havia subtraído de seu soldo atrasado o custo de umas botas que ele havia perdido durante seu cativeiro. Como se a culpa fosse sua!
Helen Bamberg, que havia conseguido que Eric fosse se expressando lentamente ao longo de muitas conversas, perguntou-lhe se ele havia mencionado o ultraje das botas a alguém quando desembarcou.
"A ninguém", disse Eric. E, em seguida, depois de uma pausa que pareceu infinita: "Não havia ninguém me esperando no cais". Ele se deteve e novamente transcorreram longos minutos de silêncio, até que, por fim: "Somente uma carta de meu pai. Informando-me que ele havia tornado a se casar, pois minha mamãe havia morrido três anos antes". Outra pausa interminável e completou: "Ela morreu pensando que eu estava morto. Todo esse tempo estive lhe escrevendo cartas e ela estava morta".
Foi aí que todos começamos a chorar.
Não tanto porque nos doía sua tragédia. Também porque Eric havia relatado a história de sua perda com uma voz monótona, sem sentimento aparente, como se todo o desespero pertencesse a outra pessoa, alguém totalmente alheio. É uma dissociação típica de vítimas de tortura. Sua sobrevivência mental durante o castigo e os intermináveis anos vindouros depende da capacidade de se distanciar o corpo e seu destino. E é nessa distância que hão de residir para sempre.
Nós chorávamos, acredito, pela humanidade. Chorávamos na sala de visita dos Lomax porque ele nos golpeou a realidade e a percepção de uma verdade que muitos preferem evitar: há danos infligidos a outros seres humanos que resultam irreparáveis. Eric Lomax havia vencido a raiva que o devorava e, comunicando-se com uma profunda fonte de piedade, havia chegado a se compadecer do homem que o havia destruído. E apesar dessa viagem de superação ética, restou algo nele que não se podia consertar.
O filme que escrevemos com Rodolfo tinha de ser fiel à desolação do irreparável e, ao mesmo tempo, não trair essa paz interior que Eric havia alcançado, o fato de que ele já não ouvia a voz de Nagase em sua cabeça e em seus pesadelos, sussurrando-lhe: "Confessa, Lomax, confessa e não há mais dor". Esta vitória espiritual de Eric sobre o medo e a fúria não havia sido obtida de forma isolada nem solitária. Cooperaram nessa tarefa sua mulher, Patti, e Helen Bamberg com seu persistente processo terapêutico. Aliás, o rastrear de seu inimigo não conseguiu ter sucesso até Eric conseguir compreender plenamente o dano sofrido. Ele teve de enfrentar o horror indizível de seu trauma para poder encontrar quase magicamente Nagase, cuja identidade real estava a plena vista havia décadas.
Para nós, a desventura de Eric e sua intenção de fazer a reconciliação adquiriu sentido especial ligando sua existência à de tantos amigos, no Chile, no Brasil e em outros países, que haviam sido submetidos a interrogatórios igualmente bárbaros, entendendo que todos os torturados do mundo compartilham os mesmos problemas e dores. Justamente, o método que Helen Bamberg empregou para ressuscitar a memória de Eric e restaurar sua saúde mental, havia sido desenvolvido por ela como resposta terapêutica ao dilúvio de torturados latino-americanos que se exilaram na Inglaterra durante nossas ditaduras dos anos 70 e 80. Eric Lomax, afirmava Helen, teve o triste privilégio de se converter no primeiro veterano da 2ª Guerra com síndrome pós-traumática que pôde se beneficiar desse novo tratamento psicológico.
Àquela altura nós não podíamos saber, é claro, que o 11 de setembro de 2001 nos aguardava no futuro, que o suplício da simulação de afogamento com que os japoneses castigaram Eric em 1944 e que os militares latino-americanos empregaram contra seus próprios compatriotas décadas mais tarde, se tornaria comum quando os Estados Unidos e seus aliados o utilizaram no combate ao terrorismo. E tampouco podíamos adivinhar que tantos milhões manifestariam hoje sua indiferença ante um tipo de violência que foi classificada de crime contra a humanidade, condenado em todos os tratados e leis firmados pela imensa majoria das nações do mundo.
Tudo indica, pois, que a história de Eric Lomax é mais relevante do que nunca no mundo contemporâneo. Meu filho e eu tivemos a sorte de contar em nosso filme com um ator como John Hurt para interpretar a odisseia de Eric até sua libertação. E agora, 20 anos depois, o público tem a oportunidade de reconhecer, por meio da representação emotiva de Colin Firth, essa dor insondável. Ou podemos aceitar que as perguntas que Eric Lomax se fez sobre o perdão e a vingança, sobre a redenção e a memória, já não perturbam nossa humanidade?
Eu gostaria de saber como nosso amigo Eric, que morreu em 2012, reagiria à notícia de que tantos compatriotas seus proclamam hoje considerar a tortura perfeitamente tolerável. Ele certamente lhes sussurraria as mesmas palavras que escreveu a Nagase quando o perdoou: "Algum dia o ódio tem de acabar". / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Ariel Dorfman, escritor chileno. É autor, entre outros livros, de Uma vida em trânsito (Objetiva). Foi coautor, com seu filho Rodrigo, do texto de Prisioners in time, vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro da Televisão Britânica em 1995.
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,pelos-trilhos-da-dor,1167806,0.htm
domingo, 27 de abril de 2014
ÁFRICA UM CONTINENTE DE GENOCÍDIOS
Continente exótico mas que é pródigo em líderes genocidas, exércitos e policiais violentos
Líderes e rebeldes
A África de nossos sonhos, aspectos exóticos de desertos, savanas e florestas onde estão animais magníficos não é a realidade que alguns filmes de Hollywood retratam docemente, porém um continente onde o sangue de seus habitantes irriga o chão de suas aldeias e casas. Desde o filme Mondo Cane (filme que retratou a realidade de acontecimentos e proibido em muitos países) que retratou momentos de horror vividos por pacíficos negros, por exemplo aquele momento em que mais de 5000 cristãos tiveram suas mãos amputadas por soldados muçulmanos, ou aquele outro em que milhares foram obrigados a entrarem em mar infestado de tubarões -lá despedaçados numa orgia macabra- e metralhados os que se recusavam às ondas do oceano, ou ditadores sanguinários de passado recente e momentos atuais que além de acusados de corrupção, extrema violência e também canibalismo, também é local onde ainda é promovida a escravatura, tão combatida no Ocidente.
Essas circunstâncias, de ditadores sanguinários oprimindo seu próprio povo com exércitos e policiais brutais, como não poderia deixar de ser, abriu caminho para surgirem líderes rebeldes contra essas situações, mas tais líderes praticavam e praticam exatamente esses mesmos crimes, ainda hoje; líderes loucos, esquizofrênicos com paranoias religiosas percorrem regiões de África semeando terror tal como se pode constatar na reportagem do portal Estadão:
Por dentro da mente de um genocida
Ex-miliciano traça perfil de Joseph Kony, procurado por crimes contra humanidade
27 de abril de 2014 | 2h 07
Adriana Carranca, enviada especial - O Estado de S.Paulo
GULU, UGANDA - "Okello! Venha! Corte as pernas daquele
homem." Okello Moses Rubangangeyo, então um recruta de 16 anos,
cozinhava para os cerca de 300 rebeldes em um descampado na mata quando o
comandante o chamou. Eles voltavam de Aboke, no norte de Uganda, após
sequestrarem 139 meninas do colégio St. Mary para levar ao chefe: Joseph
Kony, o líder do Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em
inglês).
Reuters
Foragido: Kony é acusado de crimes contra a humanidade
Com o tempo, ele se tornou braço direito de Kony. Okello tinha duas mulheres e 34 meninos-soldados sob sua tutela. "Os menores, de 14 ou 15 anos, matam aleatoriamente sem mesmo os comandantes mandarem. Não sabem distinguir o que é certo e errado", conta. Os comandantes tinham encontros semanais com Kony. "Ele conhecia a todos pelo nome", lembra Okello. "Ele me chamava de escritor porque eu era o único com alguma educação."
Certa vez, Okello foi atingido por fragmentos de bomba, desmaiou por dez horas e foi deixado para trás pelos rebeldes. Em uma rara decisão, que colocava seus homens em risco, Kony ordenou que voltassem para buscá-lo. "Ele (Kony) estava preocupado. Quando disseram a ele que eu estava desaparecido, Kony deu ordens para que voltassem e procurassem por mim. Por isso, diziam que eu ressuscitei dos mortos."...Leia mais/Read More
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,por-dentro-da-mente-de-um-genocida,1159165,0.htm
sábado, 26 de abril de 2014
FESTIVAL DE MENTIRAS NA ÓPERA BUFA
ANDRÉ VARGAS É POLICHINELO OU FIGARO? ELE É SERVO TRAPACEIRO OU VELHO AVARENTO?
Saiba o que pensa sobre isso, o Psicólogo Sylvio Porto da Costa Mattos
- Hoje
- = FESTIVAL DE MENTIRAS NA ÓPERA BUFA =
Ex-vice-presidente da Câmara dos Deputados, o petista André Vargas apostava na solidariedade dos colegas para salvar o mandato... Mas o barco do PT está fazendo água há algum tempo!
Na tentativa de se explicar, acabou botando mais água para dentro do barco... Numa época em que os comandantes são os primeiros a abandonar o navio, André Vargas vai acabar se afogando preso na cabine das mentiras. Senão vejamos:
1ª MENTIRA - O AVIÃO => “Essa história do avião quem está espalhando é o deputado Fernando Francischini, mas não pedi avião nenhum ao Youssef.” A VERDADE: O avião, um Learjet-45, foi alugado pelo doleiro Alberto Youssef especialmente para levar a família de André Vargas de férias. O presente do doleiro custou 100.000 reais. Desmascarado, o petista ainda disse que havia pago o combustível do jato; mas isso também não era verdade. Depois, disse que só pediu o favor ao doleiro porque as passagens aéreas estavam muito caras.
2ª MENTIRA - A AMIZADE COM O DOLEIRO => “Não dá para dizer que ele é meu amigo. É, no máximo, um conhecido que me procurava para trocar ideias. Eu não sabia com quem eu estava me relacionando.” A VERDADE: Nas mensagens de celular captadas pela Polícia Federal, André Vargas cobra pagamentos de Alberto Youssef a um de seus irmãos, Milton Vargas Ilário. Ele também combina reuniões com o doleiro, que se revela mais que um “conhecido". Quando Youssef reclama que está “enforcado” e diz que precisa de “ajuda para captar”, Vargas, o homem influente no partido, tranquiliza o doleiro: "Vou atuar”.
3ª MENTIRA – O LOBBY NO MINISTÉRIO DA SAÚDE => “Não participei, não agendei, não soube previamente nem acompanhei desdobramentos de nenhuma reunião no ministério a respeito desse ou de qualquer outro assunto relacionado a negócios da Labogen em nenhuma instância de governo.” A VERDADE: O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha admitiu a VEJA que André Vargas o procurou para pedir que diretores do ministério examinassem uma proposta de parceria com o laboratório Labogen, uma empresa de fachada usada pelo doleiro Youssef para lavar dinheiro e envolvida em um golpe milionário contra o ministério.
4ª MENTIRA - A PARCERIA COM O DOLEIRO => “Sobre a empresa Labogen, orientei-o a respeito de encaminhamentos burocráticos no Ministério da Saúde, como faço normalmente com quem procura nosso gabinete com projetos que entendo serem viáveis e de interesse público.” A VERDADE: André Vargas tinha interesse pessoal no laboratório de fachada do doleiro Alberto Youssef. A dupla planejava fazer fortuna usando a Labogen. Nas mensagens interceptadas pela polícia, fica evidente que, para a dupla, o céu era o limite. Youssef diz a Vargas: “Cara, estou trabalhando, fica tranquilo. Acredite em mim. Você vai ver quanto isso vai valer... Tua independência financeira e nossa também, é claro...”
5ª MENTIRA - A RENÚNCIA AO MANDATO => “Renunciei para cuidar da defesa e das crianças. Tomei a decisão no domingo, com minha esposa e meus quatro filhos. Eu vejo que já me julgaram sem provas e quero proteger minha família.” A VERDADE: Depois de comunicar aos principais líderes do PT e aos seus familiares a decisão de abrir mão do mandato, André Vargas chegou a anunciar que iria entregar a carta de renúncia na terça-feira passada (15/04/2014). Dizendo-se amargurado por ter sido abandonado pelos companheiros de partido, desistiu. Na quarta-feira (16/04/2014), informou que deixaria apenas a vice-presidência da Câmara e permaneceria como deputado. Mas... Sob pressão do partido, o deputado André Vargas (PR) pediu nesta sexta-feira (25/04/2014), a sua desfiliação do PT, após 24 anos de filiação à legenda. RESUMO DA ÓPERA BUFA => O deputado André Vargas é suspeito de envolvimento com o doleiro Alberto Yousseff, preso pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato; era vice-presidente da Câmara (atualmente licenciado) e vem respondendo a processo de cassação do mandato no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. Em nota, ele comunicou seu desligamento do PT e disse que pretende se concentrar na sua defesa no Conselho de Ética: - “Sem partido, irei dedicar-me agora à minha defesa no Conselho de Ética da Câmara, confiante de que me serão asseguradas as prerrogativas do contraditório e da ampla defesa. Confio na isenção, imparcialidade e tratamento isonômico da Câmara em relação ao meu caso, reafirmando a minha crença na democracia e no Estado de Direito.”
Haja paciência na plateia para mais um cansativo e repetitivo ato de patuscadas petistas... Ou melhor, a PRÓXIMA MENTIRA do caso André Vargas!
= by Sylvio Porto – 26/04/2014 = Fontes: 1) VEJA – “As cinco mentiras do deputado” - Edição nº 2.379 de 23/04/2014; 2) AGÊNCIA BRASIL – “Deputado André Vargas se desliga do PT” – 26/04/2014
Fonte:.https://www.facebook.com/messages/sylvioporto
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