terça-feira, 19 de novembro de 2013

ATÉ QUANDO???





>Data:18/06/2012
>Veículo:You Tube

>Editoria:Professor Ulisses Lima
>Jornalista(s):Professor Ulisses Lima
>Página:Musica na sala de aula
>Assunto principal:a difícil e dura vida dos acomodados brasileiros
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ECOS DO PASSADO - MARIO LIMA

Morreu Mário Lima, um Herói da Petrobras e do Brasil

Wagner Victer




Hoje, por acaso, tive uma notícia muito triste. Ao procurar um velho amigo que havia citado no livro, que acabei de lançar, como um dos mestres que tive e para quem queria enviar um exemplar, tomei conhecimento do falecimento do ex-deputado e companheiro da Petrobras e lutas, Mário Lima, que faleceu há alguns meses e eu não sabia!

Mário Lima foi, no inicio da década de 60, Presidente do Sindicato dos Petroleiros pela Bahia, onde organizou a primeira grande greve dos petroleiros no país. Baiano, “arretado”, amigo dos amigos, homem galanteador e pai de muitos filhos e de muitos amores femininos, Mário Lima foi Deputado Federal pela Bahia por três mandatos, desde o início da década de 60, quando foi um dos primeiros cassados pelo Ato Institucional estabelecido pelo regime militar, chegando a ser até Deputado Federal Constituinte na legislatura 1987/1991.

Conheci Mário Lima em 1987, quando ainda era jovem Engenheiro na Petrobras e quando pela Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), lutávamos para consolidar, na Constituição de 1988, o conceito da união como sendo detentora monopolista dos recursos do petróleo e que culminou com o estabelecimento do Artigo 177 da última Constituição Federal promulgada na ocasião. Nesta assembleia constituinte ele foi um parlamentar muito importante não só nesta causa do setor petroleiro, mas na consignação de uma série de direitos dos trabalhadores na Constituição Federal e se tornou um dos canais preferenciais que tínhamos com o Congresso Nacional.

Mais tarde, Mário, já sem mandato legislativo e atuando no então escritório de Brasília da Petrobras (Esbras), no governo Collor, nos assessorava de maneira apaixonada e corajosa, colocando em risco seu próprio cargo, movimentos orquestrados e bem suportados economicamente quando buscavam revisar esta mesma Constituição Federal com o objetivo claro de pavimentar o caminho para a privatização da Petrobras e quando éramos vistos como os dinossauros por não concordar com o movimento neoliberal porque passava o país e que contagiou grande parte da mídia.

Me apaixonei pela história de Mário Lima e principalmente por seu estilo amigo. Cada vez que ia a Brasília, ao invés de ficar em hotel, me hospedava em sua casa, como muitos da AEPET, somente para ouvir suas histórias do período da ditadura em que ficou como preso político e depois exilado e aprender com sua experiência. Lembro-me que ele com toda fidalguia ia me pegar no Aeroporto dirigindo um carro tipo “banheira americana” marca Landau que os jovens de hoje não conhecem mais.
Tenho dezenas de histórias contadas por ele, todas muito engraçadas e muitas com os principais políticos do país da ocasião como Miguel Arraes, Ulisses Guimarães, José Richa, Mário Covas, que quando o encontravam no congresso o idolatravam e eu podia observar o respeito que todos tinham por ele: e que ser transformava em uma “armadura” fundamental e que nos dava segurança e força para nossa luta em defesa da Petrobras que na ocasião era feita por poucos apaixonados e como dito sem o suporte político existente atualmente onde tal processo privatização desenfreada não mais conta com o apoio popular e da mídia até pelos resultados duvidosos em alguns setores.

Uma das histórias que Mário Lima me contou e que achei sensacional e que passarei a relatar ocorreu no início da década de 60, quando ele ainda era sindicalista. Mário, ao saber da visita do Embaixador Americano a Salvador, na ocasião, vistos como grandes interventores do processo político conturbado do Brasil, ele foi ao encontro do diplomata no Aeroporto de Salvador e como bom baiano jogou capoeira e com gingado tentou desferir um golpe plástico e artístico denominado “Benção”. Obviamente, segundo ele, não chegou nem perto do diplomata, porém tomou “muita porrada” dos seguranças e saiu arrastado do aeroporto. No dia seguinte a capa do Jornal de Salvador estampava “Mário Lima porreta enfrenta Embaixador Americano”! Ele gargalhava que mesmo todo dolorido, tinha conquistado milhares de votos e tinha “lavado a honra baiana e a brasileira contra os Yankees” o que foi importante para conseguir seu primeiro mandato.
Naquela luta em defesa da Petrobras, naquele momento extremamente difícil, tínhamos nos jovens e eu com meus vinte e poucos anos em Mário Lima uma referência de experiência e disposição e principalmente com um dos canais para defendermos a Petrobras o que conseguimos o que certamente, mesmo com a quebra do monopólio estatal do petróleo, mais tarde manteve a Petrobras íntegra e estatal.

Me recordo de uma reunião que tivemos em Brasília com sua participação ainda em meados da década de 90, junto com outro grande companheiro da Petrobras e da AEPET, Ricardo Maranhão, com o então Senador Ronaldo da Cunha Lima que tinha sido governador da Paraíba quando conseguimos uma carta do senador ao então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que em homenagem ao amigo senador assumiu o compromisso público de não privatizar a Petrobras o que culminou com a inclusão de um artigo na Lei 9478/96, (Lei do Petróleo) em discussão na ocasião, definindo que controle acionário pela União da Petrobras como sendo uma obrigação legal.

Digo com convicção: Mário Lima foi um dos heróis que tivemos na defesa da Petrobras e seu amor pela empresa em que ingressou em 1958 como operador depois virando técnico de produção era emocionante.
A última vez que o vi, já que nos falávamos pelo menos uma vez por ano por telefone, foi pouco antes do fechamento do Hotel Glória que ele freqüentava sempre que vinha ao Rio e me convidou e ficamos horas conversando e ele , com orgulho, me mostrou fotos dele e do então Presidente Lula, ainda como sindicalista passando férias juntos com a família na Bahia. Mário Lima e Lula por terem vindo do movimento sindical, guardavam grande amizade e respeito mútuo e eu mesmo testemunhei esta relação quando ambos eram deputados federais constituintes.

Para mim do coração, foi uma grande perda! O dia chuvoso e frio de hoje e as tentativas de ligação que comecei a fazer para seu celular que davam já como celular inexistente, me apontavam algo que não queria aceitar que era a perda de um querido e admirado amigo.

Acabo de fazer este texto em homenagem e com muita saudade dele e até em repreensão a mim mesmo por não ter falado ou procurado ele desde o ano passado, e para que as pessoas que não conheceram possam saber um pouco do grande Mário Lima, herói, baiano e brasileiro das causas dos trabalhadores e da Petrobras.

Certamente Mário Lima pelo que fez é merecedor de homenagem pela Petrobras, dando a ele o nome de alguma instalação ou navio para lembrar deste homem fantástico, que tem um histórico que muitos de gerações atuais não conhecem e que vou sentir de fato grande saudade e que do coração espero que esteja com Deus escutando suas histórias engraçadas e típicas dos petroleiros e apaixonados pelo país.


>Data:26/09/2012

>Veículo:O GLOBO BLOGS
>Editoria:GLOBO.COM
>Jornalista(s):Wagner Victer
>Página:Mais+>Blogs> Site de Colunistas>Economia>Wagner Viter
>Assunto principal:Amizade, saudade, ternura, respeito, coragem, referência de vida
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