FEDERALISMO, UMA BRISA OU UM VENDAVAL?
VENTOS DO FEDERALISMO ASSOMBRAM GOVERNANTES
ESCÓCIA, UM ESTADO INDEPENDENTE?
Não nego admirar o povo inglês tanto quanto os russos, a rainha Elizabeth II tanto quanto o presidente Vladimir Putin cada qual buscando o melhor para sua nação, Inglaterra e Rússia; não poderia opinar sobre a Escócia se também não admirasse os operosos e valentes escoceses que tanto já nos deram em ciência, técnicas e tecnologia e assim aventuro-me a considerar que à Escócia lhe seria melhor e mais seguro partilhar com a Inglaterra uma fórmula de federalismo.
A questão toda tornou-se um bocado complicada na Europa Ocidental e Américas agora que Rússia deu um mergulho no sistema Federalista de governo (mesmo estando mais para o imperial Federalismo norte americano do que para o democratico federalismo suíço) trilhando o caminho saudável do Federalismo, mas e o trono inglês como este poderia conviver com o Federalismo? Pois se o fizesse perderia grande quantidade dos poderes que exerce (indiretamente) no governo da Inglaterra e Commonwealth. Para o trono inglês tornar isso viável seria essencial grande desprendimento do Poder, muito maior o amor pela Inglaterra, pelo povo inglês e o do Commonwealth, pela paz e harmonia mundial do que pela Coroa monárquica. Perder poder sempre é dolorido.
Tenho plena consciência que governantes ditatoriais sejam comunistas/socialistas ou democratas temem o Federalismo pois nesse sistema de governo, governantes ditatoriais e corruptos perdem a maioria absoluta dos poderes com que contam; perdem as oportunidades para roubarem os Tesouros Nacionais e os povos sobre os quais mantêm poderes absolutistas e extensa malha de corrupção e impunidade. Mas é claro, tais governos federalistas precisam ser calcados no Federalismo tipo suíço -não nos moldes daquele que vigora nos EUA-.
Ilia Kharlamov, jornalista, discute em um bom artigo a questão dos ventos do Federalismo, o que me leva a transcreve-lo:
Edimburgo será uma nova capital europeia?
Londres está categoricamente contra esta opção e ameaça
Edimburgo com as mais diversas restrições. Com efeito, o premiê David
Cameron tem o que recear. O voto dos escoceses a favor da independência
vai deixar, além de outras consequências, cinco milhões de súditos de
Sua Majestade e a base britânica de submarinos nas proximidades de
Glasgow em território estrangeiro.
A Europa está prestes
a enfrentar toda uma série de referendos sobre a autodeterminação de
diversos territórios, que integram atualmente vários países-chaves da
União Europeia, como, por exemplo, o Reino Unido, a Espanha e a Itália.
Ora isso não gera qualquer histeria. A União Europeia e os EUA não
impõem sanções, nem fazem ameaças terríveis a Roma, Londres e Madrid,
como o fizeram no caso da Rússia, que apoiou a manifestação da vontade
da maioria esmagadora dos habitantes da Crimeia e assinou o tratado
sobre a sua integração na Federação Russa.
A perspectiva
de separação da Escócia do Reino Unido é perfeitamente real embora seja
pouco provável. Por isso, em torno do referendo praticamente não há
discussões, reputa Alexei Gromyko, diretor interino do Instituto da
Europa:
“Ali não existe uma lei que proíba a alguma
região promover referendos. Se a maioria da população votar a favor da
separação do Reino Unido, Londres não poderá resistir legalmente a isso.
Mas todos sabem que os nacionalistas escoceses irão sofrer uma derrota
neste referendo, pois dispõem do apoio de cerca de 35% da população.
Certamente, as tendências separatistas existem na Escócia mas ela
continuará no quadro da Grã-Bretanha.”
No entanto, o
governo da Escócia está firme na sua decisão. Ele já publicou o chamado
“Livro Branco” que descreve detalhadamente o plano da sua saída da
Grã-Bretanha. Ainda no ano passado, o premiê escocês Alex Salmond
declarava que a soberania permitirá pôr em prática o potencial colossal
da atual autonomia. A garantia da sua prosperidade é o petróleo do mar
do Norte, que – segundo afirmam os lutadores pela independência –
pertence no plano geográfico à Escócia. Além disso, haverá um enorme
afluxo de turistas. Afirma-se que as autoridades poderão elevar os
subsídios sociais à custa destes recursos. O país independente vai criar
o seu próprio sistema tributário e um exército autônomo. Caso estes
planos realmente grandiosos forem levados a cabo, no quadro da União
Europeia será criado um precedente perigosíssimo que pode acarretar
futuramente o desmoronamento do projeto mais ambicioso da segunda metade
do século XX.
Embora o índice de tendências
separatistas seja relativamente baixo, não se pode afirmar por enquanto
que o resultado do referendo esteja predeterminado. A ciência
sociológica às vezes comete erros. Os escoceses têm ainda tempo para
recordar a sua luta pela soberania, cuja história é muito longa. Depois
de numerosas tentativas da Inglaterra de anexar a Escócia, no século XIV
deu-se a batalha de Bannockburn, depois da qual Londres reconheceu a
independência do seu vizinho. A seguir, a Escócia criou os seus próprios
órgãos de poder e o parlamento, que funcionou sob a égide do rei James
VI. Mas, quatro séculos depois, o chamado Tratado de União criou um
parlamento único e um governo central, enquanto que o respectivo órgão
representativo da Escócia era liquidado. Falando em rigor, a história da
Escócia, como parte do Reino Unido, e a crônica da sua “guerra fria”
pela independência começam precisamente a partir deste momento.
Em
breve a Europa irá assistir ao culminar desta história nada simples.
Eis o comentário desta situação do cientista político Manel Parra,
professor universitário espanhol:
“Qualquer
Estado-membro da União Europeia tem o direito de resolver
independentemente se está pronto ou não a conceder a independência a uma
parte do seu território. É isso que consta no Tratado de criação da
União Europeia. A Escócia é precisamente um caso destes. Dado que
Londres não proibiu a promoção do referendo, existe a probabilidade de a
Escócia vir a ser um Estado independente. Por outro lado, a Escócia
perderá a sua filiação na União Europeia na qualidade de parte do Reino
Unido. E ninguém sabe, se os demais países europeus quererão aceitá-la
de volta. O mais provável é que não.”
O cientista político Igor Kovalev chamou a atenção para um pormenor importante que entreabre a cortina de tranquilidade geral:
“O
referendo na Escócia é resultado do acordo entre a sua parte
separatista e o governo da Grã-Bretanha. Londres consentiu com a votação
e atribuiu a legitimidade ao referendo. Se a Escócia se separar e se
tornar um Estado independente, terá sérios problemas, o que irá agradar a
muitos outros membros da União Europeia que também enfrentam o
separatismo. Um exemplo disso é a Espanha. E aí são possíveis ações
destinadas a impedir o alastramento desta tendência para outros países
do continente.”
Por outras palavras, neste jogo de
paciência nem todas as cartas foram postas na mesa. Como é natural,
Londres está preocupada com as tendências centrífugas que põem em perigo
a segurança nacional do país. Mas a confiança fria, puramente inglesa e
bem ponderada, de que a Escócia permanecerá dentro do Reino Unido não
lhe dá chances para entrar em pânico. Em breve o mundo verá se a
intuição do establishment da capital britânica estava ou não certa.
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