segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O engenheiro Ozires Silva quer construir "novo ITA"

Data: 28/10/2013
Veículo: VALOR ECONÔMICO -SP
Editoria: EMPRESAS
Jornalista(s): Beth Koike | De São Paulo
Página: B14
Assunto principal:MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 
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Os protótipos do helicóptero de Leonardo Da Vinci, do 14 Bis de Santos Dumont e das aeronaves da Embraer espalhados na sala de Ozires Silva não deixam dúvidas de sua paixão. Mas, hoje, aos 82 anos, o engenheiro aeronáutico formado pelo ITA está às voltas com o setor de educação e tem o desafio de presidir o conselho de administração do Anima, grupo de ensino que começa a negociar hoje ações na bolsa de valores.
Trata-se de um desafio porque a bandeira da Anima é a qualidade da educação. Os três grupos de ensino superior que já têm capital aberto - Anhanguera, Estácio e Kroton - cresceram baseados em escala e só recentemente voltaram os olhos para a qualidade de seus cursos. O IPO (oferta inicial de ações) da Anima pode servir como termômetro para medir se os investidores estão atentos a essa questão.

Ex-ministro de infraestrutura no governo Collor, Ozires circula com facilidade por Brasília e entre entidades ligadas à educação. Eu tenho a possibilidade de falar mais grosso lá [em Brasília]. Levo propostas que eles acham difíceis, mas não tem sentido eu levar coisas facéis, né? , diz ele.

Um de seus projetos prevê a desoneração de impostos das mensalidades escolares. Foi apresentado ao Ministério da Educação há cerca de dois meses. Os impostos representam quase 30% do custo das mensalidades. O Brasil é o único país no mundo que tributa mensalidade escolar , diz Ozires, em entrevista concedida ao Valor antes do pedido de IPO na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no início de setembro.

O ex-aluno do ITA também quer criar uma universidade de engenharia que, nas suas palavras, ambiciona ser a melhor escola de engenharia do Brasil . Para torná-la viável financeiramente, Ozires vai bater na porta do governo com o intuito de derrubar a incidência de impostos em doações destinadas à educação.

Se conseguir, diz ele, empresas e filantropos seriam estimulados a doar recursos para a sua tão sonhada universidade de engenharia - aos moldes do que acontece nos Estados Unidos. O Bill Gates doou metade de sua fortuna para a educação. Nos Estados Unidos, as doações não são tributadas, o que motiva muitos a dar dinheiro para o ensino , disse o ex-ministro. O fundador da Microsoft e o investidor Warren Buffet são os maiores filantropos de Harvard.

Eu não partilho da premissa de que a origem do dinheiro determina a qualidade do ensino , diz ele, sobre o setor na bolsa

Ozires defende os grupos privado, ao ser indagado sobre a visão de muitos acadêmicos de que os grupos educacionais com ações em bolsa têm um ensino de baixa qualidade. Eu não partilho da premissa de que a origem do dinheiro determina a qualidade do ensino e também não acredito que as instituições públicas proporcionem melhores condições de ensino. Nós, por exemplo, temos os dois melhores centros universitários em Belo Horizonte, a Una e a Uni-BH. Ambas são privadas , afirma. Os dois centros universitários Una e UniBH têm nota 3 no Índice Geral de Cursos (IGC) do MEC, cuja avaliação vai de 1 a 5. Além dessas duas instituições, o grupo Anima é dono da Unimonte, de Santos, no litoral paulista, e detém uma fatia de 50% na HSM, de educação executiva, que tem unidades em São Paulo e Rio.

Em relação à atuação do Ministério da Educação, ele não poupa críticas: O MEC é imperial na educação. É tudo regulado, as instituições não têm liberdade nem para definir o currículo acadêmico. Defendo uma maior autonomia das instituições .

No âmbito do ensino público, sua visão é de que não falta verba. O problema é a má gestão dos recursos. Acho que o governo deveria só legislar, regular, normalizar e fiscalizar. A maior falha é a capacidade de gerenciar , diz. Ele, engenheiro aeronáutico, faz uma comparação com os aeroportos concedidos à iniciativa privada. A grande Infraero, monopólio de 65 aeroportos, é um exemplo visto por todos os brasileiros de que a gestão pública não funciona. Os aeroportos de Guarulhos e Viracopos [hoje sob gestão da iniciativa privada] mudaram em pouco tempo , diz.

Em uma conversa de uma hora e meia com o Valor, Ozires, ex-aluno do ITA, lamentou por diversas vezes que o país não investe em inovação como vem fazendo a Coreia do Sul e outros países asiáticos. O Brasil está perdendo a corrida mundial da educação. Veja só, o carro da Hyundai [montadora coreana] foi eleito o carro do ano passado em Detroit, a capital dos automóveis americanos , lembra.

Um dos fundadores e presidente da Embraer por 20 anos, Ozires ressalta que a fabricante brasileira de aeronaves é uma das exceções no país e desponta no mercado mundial por causa do alto nível de ensino do ITA. Os engenheiros da Embraer são formados pela instituição de ensino de São José dos Campos (SP), considerada uma das melhores do país.

Mesmo com esse cenário complexo para a educação, Ozires enxerga um céu de brigadeiro para a Anima. Isso porque, atualmente, apenas 35% dos jovens entre 18 e 24 anos estão na faculdade e a meta do governo brasileiro é que esse percentual atinja 50% em 2020. Além disso, cerca de 75% dos universitários estuda na rede privada.

Diante desse desafio, Ozires tem um expediente puxado. Trabalha normalmente das nove da manhã às seis da tarde. Trabalho bastante, mas não sou como os jovens daqui [da Anima], que às vezes viram a noite. Para minha milhagem, não dá não , brinca.

FONTE:http://cliente.linearclipping.com.br/cnte/detalhe_noticia.asp?cd_sistema=93&codnot=8397029

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